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Alcione resume 50 anos de carreira em show com orquestra e com total fidelidade à alma da artista - Rádio Solar Brasil

Alcione resume 50 anos de carreira em show com orquestra e com total fidelidade à alma da artista

Escrito por on 7 de junho de 2022

Entronizada no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cantora enfileira 65 músicas em roteiro que abarca sucessos que interpretava na noite carioca no início da década de 1970.

Resenha de gravação de show

Título: Alcione 50 anos

Artista: Alcione

Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 5 de junho de 2022

Cotação: * * * *

♪ Mais do que uma cantora popular, e isso já seria muito, Alcione personificou uma entidade da música brasileira ao longo das duas horas e meia que permaneceu sentada no centro do palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro durante a apresentação do show Alcione 50 anos na noite de ontem, 5 de junho de 2022.

Ali estava – diante de plateia iluminada por luzes que permaneceram estranhamente acesas ao longo do show e formada somente por convidados – uma cantora que já transcendeu rótulos e gêneros musicais sem deixar de ser uma “voz do samba”, como foi apresentada ao Brasil em 1975 no título do primeiro álbum.

Voz grave, do time dos contraltos, que se tornou uma das mais perfeitas traduções da alma sentimental brasileira ao valorizar repertório que, partindo do samba, segue pelos ritmos nordestinos e sempre aporta nas baladas de romantismo despudorado e linguagem direta.

E foram baladas como Estranha loucura (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1987) e Ou ela ou eu (Flávio Augusto e Carlos Rocha, 1987) – trilhas sonoras afinadas com o enredo amoroso das Marias Bruacas da vida real que ainda enfrentam Brasil afora o domínio patriarcal da sociedade machista – que mais seduziram o público presente na gravação audiovisual de show especial que irá gerar álbum e DVD lançados pela Marrom Music em parceria com a gravadora Biscoito Fino.

Acomodada na cadeira que bem poderia simbolizar um trono, a maranhense Alcione reinou no palco do Municipal carioca ao resumir 50 anos de carreira, tomando-se como ponto de partida a edição em 1972 do primeiro single da cantora maranhense. Esse single apresentou Figa de guiné, música de Reginaldo Bessa e do então também debutante compositor Nei Lopes, bamba das letras que se tornaria nome recorrente na discografia da cantora.

Em medley com outro samba dos mesmos autores, Tem dendê (1973), Figa de guiné marcou presença em roteiro que aglutinou 65 músicas em 30 números, quantidade ainda assim insuficiente para abranger todos os sucessos da Marrom. Tanto que sambas como Sem perdão (Jorge Aragão, Nilton Barros e Sereno, 1981) e Noite pelo dia (Arlindo Cruz e Adilson Victor, 1982) foram ausências sentidas no farto roteiro – assim como Roda ciranda (Martinho da Vila, 1984) – por quem acompanhou com fidelidade a trajetória fonográfica de Alcione nesses 50 anos.

Com o toque da Orquestra Sinfônica Maré do Amanhã, harmonizada com a Banda do Sol regida pelo tecladista e diretor musical Alexandre Menezes, Alcione aliou à singularidade da voz – ouvida com a potência e a emissão permitidas pelos 74 anos festejados pela artista em 21 de novembro de 2021 – à musicalidade igualmente rara que se manifestou já na adolescência vivida na cidade natal de São Luís do Maranhão (MA).

Cantora e instrumentista, hábil no toque do trompete, Alcione já mostrou quem era no show nos breques do samba Eu sou a Marrom (Roberto Corrêa e Sylvio Son, 1978), espécie de cartão-de-visitas musical desta artista que caiu bem no suingue dos scats que adornaram o medley que aglutinou os sambas Primo do jazz (Magnu Souza e Nei Lopes, 2005) e Influência do jazz (Carlos Lyra, 1962).

Os scats reapareceram já no fim do show, como temperos que tornaram o suingue de Gostoso veneno (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1979) ainda mais saboroso.

Orquestrado sob direção geral de Solange Dias Nazareth, irmã e empresária de Alcione, o show Alcione 50 anos teve o roteiro como um dos pontos altos. Os links das músicas por afinidades temáticas e/ou rítmicas resultaram azeitados e – cabe lembrar – a maior parte desse roteiro herdou a costura do show comemorativo dos 70 anos da artista, apresentado em 16 de dezembro de 2017 na casa Ribalta, no Rio de Janeiro (RJ), cidade que acolhe Alcione desde 1967.

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